quarta-feira, 14 de novembro de 2007

HISTÓRIA DE UM VIOLINO

Parei, fitando um acervo de sucata
Que iria arder em fogo breve,
Por um fósforo leve,
Que a chama pequena incendeia e consome,
Qualquer montão de peças estragadas,
Mesmo aquelas que trazem doces nomes
De pessoas amadas...

Dentre as centenas de objetos,
Vasos, portões e móveis incompletos,
Cuja a destruição era o destino
Encontrei um violino
Que mais me parecia
Uma relíquia em agonia
No resto de instrumento que ele fora...
De onde procederia
- Perguntei a mim mesma intrigada –
Aquela peça desprezada?
Sob que mão renovadora
Teria sido um dia,
Perfeitamente manejada?

Então aquele traste,
Em rude desconforto,
Falou-me ao coração:

- não lastimes a sorte que me espera.
Quanto anotas no mundo,
Desde o campo relvoso ao deserto infecundo,
Tudo é renovação!...
Eu fui um tronco verde, o mais belo de um horto,
Que mais brilhava ao sol da primavera.
Era visto, de longe, nos caminhos
Em que passasse alguém que amasse
Os pássaros e os ninhos...
Minhas flores vermelhas
Eram a adoração de enxames de abelhas...

Orgulhava-me sim, de ser forte e robusto...
Veio, um dia, porém,
Um homem frio e armado
De serrote e machado
E esfacelou-me os pés, agindo a custo...
Depois, tombei vencido sobre a Terra.

Fui, logo após, levado, serra em serra
Em terrível viagem,
Largado muito tempo ao desprezo e a secagem...

Certa feita, um artesão
De tato delicado, estranho e fino,
Transformou-me em violino
E fui vendido a um moço artista,
Que me deu cordas, vida e coração...
A princípio, chorei com saudades do chão
Em que subia ao firmamento
Na viva emanação do meu próprio perfume,
Entre flores bailando, ante flautas do vento;
Recordava, a chorar, a presença das aves,
Que falavam comigo em cânticos suaves,
Agradecendo a Deus, cada manhã,
A beleza e a alegria da alvorada
Que mais nos parecia uma festa dourada,
A luz do sol nascente...
Mas o artista abraçava-me docemente
E manejando as cordas que me dera,
Fez-me sentir, por fim, o instrumento que eu era...
Muita gente me ouvia,
Embargava de pranto,
Sem que fizesse algo para tanto...
Mães que houvessem perdido algum filhinho,
Ante o poder da morte,
Choravam com saudade e carinho,pondo-se a relembrar

Os sonhos de outro tempo e as canções de ninar...
Muito doente em prece
Pensava em Deus, onde eu me achava,
Sem que eu mesmo soubesse
Explicar a razão...
Notando que tornava as almas que sofriam
Mais consoladas e felizes,
Não mais me lamentei de me haver afastado
Do bosque bem amado
Em que deixara as ultimas raízes...
Depois de muitos anos,
Vi muita desventura e muita dor
Transformando-se em preces ao senhor.
Vendo, enfim, que servia e consolava,
O artista mais me quis,quanto mais me tocava.

Até que, um dia,
O moço enfermo , tremulo e alquebrado
Foi coberto num tumulo fechado...
Então alguém me achou inútil para a vida
E me guardou aqui numa cova escondida,
Á espera da fogueira
Em que eu possa também
Encontrar minha hora derradeira...

Nesse justo momento,
Alguém ateou fogo ao monturo opulento...
E vi outro alguém descer das imensas alturas:
Um moço belo e forte
Que arrancou, de improviso,
A forma do instrumento á labareda e a morte...
E ao colocar no braço o violino refeito
Em matéria de luz,
Dele extraia sons... Era um hino perfeito
Que o fazia esquecer a cinza transitória
Na musica de vida, esperança e vitória...


Então, eu me lembrei de vós, médiuns amigos!
Entregai-vos ás mãos dos artistas do Bem,
Que eles façam em vós a música do Além.
E, um dia,
Qual se fosseis despregados,
Por trastes relegados
Ao frio dos museus,
Braços de amor virão
Para traçar convosco o Novo Dia
Que trará para os homens
O Caminho de Luz da Perfeita Alegria,
Entre a benção de paz e a proteção de Deus.

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