sexta-feira, 23 de novembro de 2007

MÃE PRETA

Escrava foi em idas tardes de mormaço;
De pele negra luzidia banhada pelo cansaço,
Submetida às lidas do seu labor.

Mãos calejadas, com o sono desfalcado,
Viu seu rebento de seu seio arrancado
Pelo mercado cruel do seu Senhor.

Eram carrascos agentes da sua dor,
Era um trajeto farto de judiação...
Ela calada suprida pelo temor
Ficava muda sem uma reclamação.

Um dia tiraram-na da senzala, ela espanta,
Foi para a casa grande curva e submissa
Cuidar do filho loiro e ninando canta
Toda a ternura que em seu ser ainda habita.

-"Dorme, dorme lindo menino
Que o anjo te guardará
Como guarda o meu filhinho
Que jogado dorme em pinho
E meu leite não sugará...
Dorme bem meu inocente,
Que eu aqui te velarei
Para que acordes contente
Com o mesmo sonho clemente
Do filho que lá deixei..."

Mãe preta chora baixinho
Pela sorte concebida,
Pois nem ao filho o carinho
De um beijo de despedida.

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